Bolsonaro diz ser Jesus, mas age como Charles Manson

Após o polêmico depoimento de Sérgio Moro na sede da superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, o presidente Jair Bolsonaro declarou que o ex-ministro era Judas, comparando-se a Jesus Cristo.
A declaração gerou atritos e foi repudiada por todos os setores. Ao que parece, as pessoas que a condenaram nunca leram a Bíblia. Todos nós, conhecedores da liturgia, sabemos que ao ficar diante dos fracos e oprimidos, pobres e marginalizados, enfermos e excluídos, Jesus indagou: “E daí?”.
Ou então quando foi perguntado sobre a atuação dos romanos e Jesus respondeu: “O erro do Império Romano foi torturar e não matar”.
E ainda como podemos nos esquecer do episódio no qual Jesus, diante de uma população passando necessidades extremas, entrou no templo dos comerciantes, e disse em alto e bom som para que todos ouvissem: “Mas, gente. E a economia?”.
Mas não se pode esperar esse tipo de conhecimento de hereges com acesso à internet.
Por me alinhar mais à esquerda e ser um ateu convicto, acredito que seja a pessoa mais neutralmente adequada para comentar a recente declaração, visto que nunca acreditei em nenhum dos messias.
Assim, fui atrás de semelhanças entre os dois, Biroliro e Chris.
Infelizmente, não encontrei nenhuma.
Contudo, apesar de ter perdido um tempo precioso com essa empreitada, acredito que fui capaz de categorizar pontos importantes, afinal, não é porque uma afirmação não faz sentido que não possamos aprender algo com ela.
Segundo a minha pesquisa, o problema dessa comparação começa ao equipararmos o fim de cada mandato. Jesus terminou sua gestão com 12 apoiadores e, na velocidade que andam as coisas, Bolsonaro dificilmente terminará com metade disso.
Também analisei episódios específicos da Bíblia, atrás de qualquer vestígio de convergência, mas ao que tudo indica nenhuma das escrituras confirmam que, ao avaliar a situação de Lázaro, Jesus prontamente disse: “Não sou coveiro”.
No entanto, há algumas semelhanças. Jesus ficou conhecido por passear sobre as águas e multiplicar alimentos, enquanto Bolsonaro passa por cima das instituições e multiplica escândalos em um nível — diga-se de passagem — mais milagroso que o próprio filho de Deus.
Foi então que algo me clareou as ideias quando percebi que, na verdade, o presidente apenas se confundiu e tentou se referir a outro líder de seita barbudo. Charles Manson. Bolsonaro diz ser Jesus, mas age como Charles Manson.
Em uma rápida pesquisa na Wikipédia, descobri que psicopatas podem ser classificados como: indivíduos narcisistas com ego inflado, mentirosos patológicos, com repentinos ataques de raiva, ausência de culpa, falta de empatia, irresponsabilidade, má conduta; tudo que facilmente se adequa em uma descrição do presidente. Talvez a única diferença, segundo os artigos, é que psicopatas costumam ser pessoas bem articuladas e inteligentes, o que nos leva de volta à estaca zero das comparações bíblicas. Logo, se Moro é Judas, Bolsonaro é, no máximo, o jumento da entrada de Jerusalém — o que explicaria a obsessão dele por Israel.
Por fim, eu sou um democrata amplamente a favor da liberdade de expressão e os direitos individuais. Então, se o Bolsonaro quer ser Jesus, que seja.
Sugiro que a crucificação seja marcada para a próxima segunda.
EDIT: Em nota, a ABJA (Associação Brasileira de Jumentos e Asnos) repudiou veemente a publicação desta crônica.
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